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Ex-chefe das Farc assume cadeira no Congresso da Colômbia

Jesus Santrich só assumiu depois de uma decisão da Suprema Corte. Presidente Ivan Duque quer que Procuradoria Geral suspenda o mandato
Jésus Santrich, ex-chefe das Farc, comemora depois de tomar posse como deputado. Ele é um dos 10 ex-integrantes das Farc a terem direito de participação no Congresso. O presidente Ivan Duque, um crítico do acordo de paz, quer que a posse dele seja anulada Foto: JUAN BARRETO / AFP
Jésus Santrich, ex-chefe das Farc, comemora depois de tomar posse como deputado. Ele é um dos 10 ex-integrantes das Farc a terem direito de participação no Congresso. O presidente Ivan Duque, um crítico do acordo de paz, quer que a posse dele seja anulada Foto: JUAN BARRETO / AFP

BOGOTÁ — Um ex-chefe das Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, assumiu hoje uma cadeira na Câmara de Deputados no país. Em cerimônia discreta, Jesús Santrich , de 52 anos, prestou o juramento e afirmou que este “é um novo passo na luta e defesa da paz na Colômbia”. Ele é uma das dez pessoas ligadas às Farc com direito a uma cadeira no Congresso, um dos termos do acordo de paz firmado com o governo em 2016. Os parlamentares fazem parte de uma nova sigla chamada " Força Alternativa Revolucionária Comum ".

Santrich, porém, só conseguiu tomar posse depois de uma longa batalha judicial. Ele foi preso em 2018, acusado por um tribunal de Nova York de tentar enviar drogas para os Estados Unidos. Sua extradição chegou a ser pedida pelas autoridades americanas. No dia 30 de maio a Suprema Corte decidiu por sua libertação e que ele poderia assumir o mandato legislativo.

Santrich, cujo nome de batismo é Zeuxis Pausias Hernández Solarte, sempre disse que era inocente. Ele foi um dos principais nomes das negociações de paz entre a guerrilha e o governo colombiano e atua na comissão responsável por garantir a implementação do acordo.

Mas a sua libertação e chegada ao Congresso provocaram uma retomada nas discussões sobre o acordo de paz entre o governo e as Farc, tema que divide o país. O presidente Ivan Duque, um crítico do acordo, chamou Jésus Santrich de “ mafioso ”.

— Ver um mafioso chegar e zombar da sociedade colombiana, isso não me parece ser apenas inadmissível como também deveria servir de motivação para que todos exijam que a justiça seja feita — afirmou Duque.

O presidente também exigiu que a Procuradoria Geral colombiana peça a suspensão imediata de Santrich das funções legislativas e que ele volte à prisão. Em resposta, o ex-guerrilheiro pediu “ sossego ” ao presidente.

— (Espero que ele) atue como mandatário de todos, dando garantias e lembrando que existe algo chamado ‘presunção de inocência — afirmou Santrich, pouco depois de ser empossado.

Assinado em 2016, o Acordo de Paz colocou fim a mais de 50 anos de conflito entre o governo colombiano e as Farc. O texto previa o desarmamento da guerrilha, participação política dos ex-integrantes e a formação de um tribunal para investigar crimes cometidos por todos os lados do conflito nas últimas décadas.