Agentes da PF e do MPF conduzem Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), para depor Foto: Pablo Jacob / O Globo

Lava-Jato apura fraude na Olimpíada do Rio-2016, intima Nuzman e manda prender 'Rei Arthur'

Ação batizada de 'Unfair play' (Jogo Sujo) é marcada por inédita cooperação internacional entre Brasil, França e Antigua e Barbuda para rastrear

por Chico Otavio, Daniel Biasetto e Miguel Caballero

RIO - Quase dez meses depois da prisão do ex-governador Sérgio Cabral e de parte de seu secretariado e assessores mais próximos, a força-tarefa da Lava-Jato não só volta às ruas do Rio na manhã desta terça-feira, como também, pela primeira vez, rompe as fronteiras nacionais com o objetivo de rastrear o caminho do dinheiro desviado pela organização criminosa liderada pelo peemedebista, tendo como alvos o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como o "rei Arthur" , e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman , colocando em xeque o processo de escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos 2016. O Ministério Público Federal afirma que há "fortes indícios" de que Nuzman "interligou corruptos e corruptores" na compra de votos dos membros do COI.

PF chega à casa de Carlos Arthur Nuzman - Pedro Teixeira / Agência O Globo

Arthur, o "rei", tem contra ele e sua sócia, Eliane Pereira Cavalcante, mandados de prisão preventiva, acusados de lavar parte do dinheiro do esquema a partir de uma sofisticada operação envolvendo offshores nas Ilhas Virgens Britânicas e contas nos Estados Unidos e Antigua e Barbuda. Já Nuzman, cuja casa é alvo de busca e apreensão, é apontado segundo as investigações como suspeito de intermediar a compra de votos de membros africanos do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a escolha do Rio como país-sede da Olimpíada.

As sedes do COB e do Comitê Rio-2016, também são alvos de mandados de busca e apreensão.

A operação foi batizada de "Unfair play' (Jogo Sujo) e foi determinada pelo juiz da 7ª Vara Criminal, Marcelo Bretas, em cooperação internacional com as autoridades da França e de Antigua e Barbuda. No total, são 11 mandados de busca e apreensão em bairros da zona sul do Rio, em Nova Iguaçu, e em Paris.

Agentes da Polícia Federal deixam a casa do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, com malotes e computador - Miguel Caballero/O GLOBO

Os agentes entraram às 6h na casa de Nuzman, no Leblon, e permaneceram dentro da residência, que fica no luxuoso condomínio Jardim Pernambuco, na zona sul do Rio, até as 9h30. Acompanhados do promotor Eduardo El Hage e de investigadores do MP francês, eles levaram um computador e um malote com documentos.

Nuzman seguiu direto para a Superintendência da PF, onde irá depor e entregar o seu passaporte. Ele deixou a casa junto com os policiais em seu carro particular. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Compra de votos

Em Copenhague, Pelé comemora com o presidente Lula a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 - Pawel Kopczynski/Reuters/2-10-2009

De acordo com as investigações, Arthur Menezes usou a mesma offshore (Matlock Capital Group) para transferir US$ 2 milhões para a conta de Papa Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo, a maior federação olímpica, de uma conta nos EUA. Outros US$ 10,4 milhões foram transferidos para Cabral via doleiro Renato Chebar, na conta do EVG Bank.

Esta transação foi comprovada por documentos fornecidos pelas autoridades de Antigua e Barbuda, e pelo gestor do banco Enrico Machado, doleiro e colaborador da Calicute.

O depósito foi feito no dia 29 de setembro de 2009, em Dakar, no Senegal, três dias antes da escolha da capital carioca como sede das Olimpíadas, segundo a peça do MPF.

Os investigadores suspeitam que Arthur não está no país. Ele tem residência na ilha americana de Key Biscayne, em Miami. Porém, o processo de cooperação internacional estabelecido com as autoridades francesas, de Antigua e Barbuda e do Reino Unido, não evoluiu com os americanos, razão pela qual o empresário não será preso pelas autoridades daquele país.

Alvo de prisão preventiva, Eliane Pereira Cavalcante é sócia do "Rei Arthur" - Gabriel de Paiva/O GLOBO

Ainda assim, o nome de Arthur Soares será incluído na lista de Difusão Vermelha da Interpol. Já sua sócia, Eliane Cavalcante, foi presa em seu apartamento, em Laranjeiras, zona sul do Rio.

Além dos agentes federais e da força-tarefa do MPF, a ação conta ainda com a colaboração das autoridades francesas, que farão busca e apreensão em pelo menos um endereço ligado ao empresário.

O MPF listou ao menos 19 documentações que deram suporte à operação 'Unfair Play':

1) Colaboração premiada de Renato Cheba r;

2) Extratos bancários das contas movimentadas por Renato Chebar;

3) Colaboração premiada de Enrico Machado ;

4) Colaboração premiada de Leonardo Aranha ;

5) Cooperação jurídica internacional com Antígua e Barbuda ;

6) Cooperação jurídica internacional com a França ;

7) Colaboração premiada de César Romero ;

8) Colaboração premiada de Vivaldo Filho ;

9) Colaboração premiada de Jaime Luiz Martins (Dirija) ;

10) Colaboração premiada de José Ronaldo (Mitsumar) ;

11) Colaboração premiada de Alexandre Igayara (Reginaves) ;

12) Depoimento de João Batista Ferreira e documentos entregues;

13) Depoimento de Eliane Pereira Cavalcante ;

14) Calendário e agenda telefônica obtidos pela quebra telemática de Arthur Soares ;

15) E-mails e documentos obtidos com a quebra telemática de Eliane Cavalcante;

16) Relatórios de Inteligência Financeira do COAF ;

17) Contratos Administrativos firmados pelo Estado do Rio de Janeiro e a empresas do Grupo KB Participações Ltda .

18) Relatório de Pesquisa e Análise nº 3199/2017;

19) Informação de Pesquisa e Investigação da Receita Federal do Brasil

Escolha sob suspeita

Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, Luis Inácio Lula da Silva, Sérgio Cabral e Eduardo Paes, então chefes dos governos federal, estadual e municipal, vibram com a escolha do Rio como sede olímpica em 2009 - OLIVIER MORIN / AFP

Não bastassem as investigações que pairam sobre o "Rei Arthur" aqui no Brasil, o empresário é agora acusado de repassar US$ 2 milhões a Papa Massata Diack, filho do então presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do comitê executivo do COI, o senegalês Lamine Diack . A transferência ocorreu três dias antes da eleição do Rio para sede dos Jogos de 2016, em 29 de setembro de 2009. E foi feita pela Matlock Capital Group, uma holding nas Ilhas Virgens, paraíso fiscal, que tem ligação com Arthur.

Linha cronológica apresentada pelo MPF com viagens e eventos suspeitos - Reprodução

De acordo com reportagem do jornal francês "Le Monde", no último mês de março, Papa Diack também recebeu US$ 500 mil de uma conta russa, segundo as informações divulgadas pelo "Le Monde". A suspeita é que todo esse dinheiro tenha sido usado para influenciar membros do COI a eleger o Rio. De acordo com documentos obtidos com autoridades tributárias dos Estados Unidos, Papa depositou US$ 299.300 na conta de uma offshore chamada Yemli Limited, através da Pamodzi Consulting. Essa offshore é ligada ao ex-velocista Frankie Fredericks, da Namíbia, que participou da apuração dos votos da eleição da cidade-sede.

As imagens da operação que tem como um dos alvos o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman

  • Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), foi alvo da operação da PF batizada de Unfair Play Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

  • Ele foi levado para depor na manhã desta terça-feira, na Superintedência da PF no Rio Foto: Pablo Jacob / O Globo

  • Também na mira da operação, Eliane Pereira Cavalcante foi alvo de prisão preventiva. Ela é sócia do empresário "Rei Arthur", que também teve prisão preventiva decretada Foto: Gabriel de Paiva/O GLOBO

  • Os agentes chegaram à Superintendência da PF com malotes apreendidos na operação Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

  • A chegada na casa de Nuzman, onde foi cumprido um mandado de busca e apreensão, ocorreu por volta de 6h Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

  • A Operação Unfairplay investiga a compra de jurados da eleição da cidade sede da Olimpíada 2016 Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo

Segundo o diretor de comunicações do Comitê Rio-2016, Mario Andrada, afirmou que as eleições foram limpas e lembrou que a vitória do Rio na última rodada se deu por um placar de 66 a 32, "uma vitória clara".

Após perder por duas tentativas a sede (para Atenas, em 2004, e Londres, em 2012), o Rio venceu, em 2009, a escolha para os Jogos de 2016. A diferença de 29 votos contra Madri foi apenas no terceiro turno da eleição, realizada na Dinamarca. No primeiro turno, o Rio ficou em segundo, atrás da capital espanhola (28 votos). Após a eliminação de Chicago, o Rio teve 46 votos, contra 29 de Madri e 20 de Tóquio.

Contratos de R$ 3 bilhões

Arthur Soares, o "rei Arthur", durante evento no Shopping Cassino Atlântico em 2012 - Divulgação

Considerado um dos maiores prestadores de serviços do governo fluminense desde a gestão Garotinho como dono da Facility, Arthur Cesar de Menezes Soares Filho ganhou notoriedade durante os dois mandatos de Sérgio Cabral (2007-2014) à frente do grupo Prol, formado por empresas que fecharam cerca de R$ 3 bilhões em contratos para fornecer mão de obra especializada como serviços de limpeza, segurança, alimentação e também na área da saúde.

Seus negócios bilionários entraram no horizonte da Operação Calicute , depois que a investigação que levou o ex-governador à prisão encontrou repasses suspeitos de Arthur no valor de R$ 1 milhão para o escritório de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, por meio da empresa Tiger Vigilância e Segurança. Já a LRG, empresa de Carlos Miranda, o operador acusado de recolher a propina para o peemedebista , recebeu mais R$ 660 mil do "rei" entre 2007 e 2010.

Alvo de inquéritos também no Ministério Público Estadual, o empresário admitiu que é amigo pessoal do ex-governador, chegando a frequentar eventos sociais no condomínio Portobello, em Mangaratiba, onde Cabral tem casa. Soares disse que conheceu Cabral quando o amigo era deputado estadual (1991-2002) e ficou mais próximo quando ele se elegeu senador. Na época, uma das empresas de Soares, a Vigo, também prestava serviços ao Senado.

Indagado sobre os repasses, o empresário argumentou que conheceu Adriana por intermédio de Cabral e contratou o escritório de advocacia da ex-primeira-dama após recomendação do ex-governador. Ao negar que os repasses funcionaram como uma forma disfarçada de pagamento de propina, Soares assegurou que o escritório prestou serviços de na área trabalhista.

O dono da Facility disse que conheceu Carlos Miranda em eventos de Cabral. Ao contratar a LRG, teria como objetivo a “prospecção de negócios na área privada”. Diante dos procuradores, ele admitiu que não se recordava se firmara com Miranda um contrato formal, mas insistiu em dizer que os serviços foram prestados e que todos os pagamentos se deram mediante o recolhimentos dos tributos devidos.

Cobrado sobre as provas da prestação do serviço, Soares disse que foi feita de forma presencial. No dia do depoimento, o empresário não conseguiu nominar as empresas trazidas pela prospecção de negócios de Miranda. Três dias depois, em ofício ao Ministério Público, seus advogados apresentaram uma lista de nomes.

QUINTO DO OURO, FATURA EXPOSTA, RATATOUILLE...

No final de março, o também empresário Luiz Roberto de Menezes Soares, irmão do "Rei Arthur", foi alvo de condução coercitiva na Operação Quinto do Ouro , que levou à prisão cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). Entre os esquemas que geraram propinas distribuídas pelo então presidente do tribunal Jonas Lopes de Carvalho aos demais integrantes do TCE-RJ, estava a arrecadação de valores junto aos fornecedores de alimentação da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) e o Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), parte deles controlados por Marco Antonio de Luca, preso na Operação Ratatouile em junho, e família. A arrecadação ficaria por conta de Luiz Roberto de Menezes Soares, proprietário de uma das fornecedoras (Cor&Sabor Distribuidora de Alimentos Ltda).

Em abril deste ano, Arthur Soares voltou a ser citado em novo desdobramento da Lava-Jato: A , que levou à prisão o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes e os empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita, acusados de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa num esquema de fraude nas regras de importação de equipamentos médicos que teria desviado até R$ 300 milhões dos cofres públicos.

De acordo com o delator Cesar Romero, ex-subsecretário executivo da secretaria de Saúde, o empresário também estava envolvido no esquema de prestação de serviços intermediados por Côrtes, Iskin e Estellita. A colaboração do ex-braço-direito de Côrtes foi reforçada por três gravações de conteúdo comprometedor entregues à força-tarefa do Ministério Público Federal e da Polícia Federal .

Dois meses depois, a partir de informações compartilhadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Ministério Público Federal do Rio, no âmbito da Quinto do Ouro, a força-tarefa da Lava-Jato voltou suas investigações para o ramo de alimentação, e prendeu Marco Antonio de Luca, acusado de subornar agentes públicos em troca de favorecimento na assinatura de contratos com o governo para fornecer, basicamente, merenda a escolas públicas e quentinhas a presídios por meio das empresas Comercial Milano e Masan Serviços Especializados. Calcula-se que ele tenha lucrado como chefe de cartel de alimentos cerca de R$ 8 bilhões.

Em julho, o MPE do Rio denunciou Arthur, dono da Hambre Distribuidora de Alimentos, e seu irmão Luiz Roberto (Cor&Sabor), e outras 28 pessoas acusadas de fraudar uma licitação para fornecimento de quentinhas aos presídios fluminenses. Apenas “Rei Arthur” e seu irmão ganharam contratos que somaram R$ 20 milhões.

Elo entre corruptos e corruptores

Carlos Arthur Nuzman durante a cerimônia de encerramento dos Jogos Paralímpicos - RICARDO MORAES / Reuters

O Ministério Público Federal (MPF) afirma que há "fortes indícios" de que o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, teve participação direta na compra de votos de membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e no repasse de propina a Papa Massata Diack, filho do então presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do comitê executivo do COI, o senegalês Lamine Diack .

A casa do dirigente na zona sul do Rio é alvo de mandado de busca e apreensão expedido pela força-tarefa da Operação "Unfair Play" , que além de apurar fraude na escolha da cidade-sede, também determinou as prisões do empresário Arthur César Soares de Menezes — o "Rei Arthur" — e de sua sócia, Eliane Cavalcante.

Segundo os investigadores, Nuzman teria sido o responsável por interligar corruptos e corruptores: "Em busca de votos favoráveis à campanha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, mancomunado a Sérgio Cabral, buscou representantes africanos do COI para alcançar o intento criminoso", sustenta a Procuradoria.

O MPF levanta a suspeita de que Nuzman teria, inclusive, obtido nacionalidade russa para poder escapar das investigações. A informação surgiu em depoimento de Eric Maleson, fundador e ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo , ouvido por autoridades francesas.

"Segundo o mesmo, Carlos Nuzman está corrompido, e terá até a nacionalidade russa pelo primeiro-ministro russo na altura, em contrapartida ao seu voto a favor de Sochi para a organização dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. Essa nacionalidade russa deve lhe permitir esperar escapar da Justiça Brasileira se fosse necessário".

As imagens da operação que tem como um dos alvos o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman

  • Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), foi alvo da operação da PF batizada de Unfair Play Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

  • Ele foi levado para depor na manhã desta terça-feira, na Superintedência da PF no Rio Foto: Pablo Jacob / O Globo

  • Também na mira da operação, Eliane Pereira Cavalcante foi alvo de prisão preventiva. Ela é sócia do empresário "Rei Arthur", que também teve prisão preventiva decretada Foto: Gabriel de Paiva/O GLOBO

  • Os agentes chegaram à Superintendência da PF com malotes apreendidos na operação Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

  • A chegada na casa de Nuzman, onde foi cumprido um mandado de busca e apreensão, ocorreu por volta de 6h Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

  • A Operação Unfairplay investiga a compra de jurados da eleição da cidade sede da Olimpíada 2016 Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo

A delação de Romero

O ex-secretário Sérgio Côrtes foi delatado pelo advogado Cesar Romero Vianna - Agência O Globo

O MPF listou ao menos 19 documentações que deram suporte à operação 'Unfair Play', entre elas a delação premiada do advogado Cesar Romero, ex- nº 2 da Secretaria de Saúde na gestão Sérgio Côrtes.

Para escapar de uma punição severa, Côrtes pretendia confessar que a licitação para a escolha do gestor da Central Geral de Abastecimento (CGA) da secretaria, no Barreto, em Niterói, foi fraudada. A disputa foi vencida pelo consórcio Log Rio, formado pela Facility e pela Prol, que ganhou com a CGA um contrato de R$ 255 milhões. Este contrato durou sete anos, até ser suspenso em abril do ano passado, logo depois que uma inspeção encontrou no local mais de 300 toneladas de medicamentos vencidos .

De acordo com a delação de Cesar Romero, ex-subsecretário executivo da Saúde, o empresário Miguel Iskin controlava as compras feitas pela Secretaria de Saúde, enquanto Arthur Soares controlava os serviços continuados, que dizem respeito à alimentação, limpeza, manutenção predial e de elevadores, apoio administrativo, refrigeração, recolhimento de lixo e verbas de publicidade.

A administração da CGA pela Log Rio gerou polêmica desde a sua contratação. Na época, as empresas de Arthur Soares desbancaram a TCI, empresa especializada em gestão de logística. Acusada de não ter expertise no setor de saúde, a Log Rio acabou tendo seu contrato suspenso por falhas na administração da CGA.

Segundo a Secretaria de Saúde, foi instaurada uma auditoria para apurar possíveis irregularidades na gestão da CGA, que também é alvo de auditoria do TCE.
VEJA OS DIÁLOGOS DAS GRAVAÇÕES DO DELATOR CONTRA CÔRTES

O teor da conversa, obtida pelo GLOBO, revela que o grupo comandado pelo ex-secretário, além de entregar o esquema na CGA, pretendia mostrar irregularidades envolvendo o serviço de SMS da empresa de telefonia Oi, para agendamento de consultas e marcação de exames, e a prestação de serviços para UPAs.

O objetivo da combinação era tentar esconder a relação de Côrtes com o empresário Miguel Iskin, na compra superfaturada de equipamentos médicos importados desde os tempo em que o ex-secretário era diretor-geral do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).

De acordo com a delação de Cesar Romero, já homologada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Iskin controlava as compras feitas pela Secretaria de Saúde, enquanto ArthurSoares controlava os serviços continuados, que dizem respeito à alimentação, limpeza, manutenção predial e de elevadores, apoio administrativo, refrigeração, recolhimento de lixo e verbas de publicidade.

A participação das empresas do “Rei Arthur” no esquema pode revelar que os desvios nas verbas públicas podem superar os R$ 300 milhões estimados pelos investigadores da operação Fatura Exposta, que prendeu Côrtes e os empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita.Em um dos trechos da conversa gravada, Romero e Júnior discutem as opções para contratar um advogado especialista em delação premiada e quais os esquemas que poderiam vir à tona.

“(...) Vou tentar ligar pra esse cara (advogado) de Curitiba, ver se eu vou lá conversar com ele, ver se ele pode vir aqui conversar comigo”, diz Romero. Júnior então pondera sobre o que falar na delação. “(...) o SMS da Oi, as UPAs, que eu não sei exatamente o que aconteceu com as UPAs, mas parece que o Miguel e Arthur no meio...o CGA(...) CGA é só Arthur, e os serviços. Aí eu não sei como, o que que ele falaria dos serviços. Era tudo o Arthur”.

Romero afirmou que o esquema contaminou todos os gastos da Secretaria de Saúde e, além da fraude nas importações de equipamentos hospitalares já revelada pelo GLOBO, a propina dividida no setor de serviços continuados seguiu a linha de 10% dos valores reembolsados. No caso da secretaria, contou o delator, 5% eram reservados ao ex-governador Sérgio Cabral, 2% a Sérgio Côrtes, 1% para os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e 1% para a “máquina”. Romero levava 1%.

AUDITORIA NO TCE

A propina para Cabral era operada pelo ex-assessor Carlos Miranda , também preso na Calicute. Já o 1% para a “máquina” ficava a cargo do ex-secretário de governo Wilson Carlos , também alvo da Lava-Jato.A administração da CGA pela Log Rio gerou polêmica desde a sua contratação. Na época, as empresas de Arthur Soares desbancaram a TCI, empresa especializada em gestão de logística. Acusada de não ter expertise no setor de saúde, a Log Rio acabou tendo seu contrato suspenso por falhas na administração da CGA.Segundo a Secretaria de Saúde, foi instaurada uma auditoria para apurar possíveis irregularidades na gestão da CGA, que também é alvo de auditoria do TCE