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Acusada de receber dinheiro da Odebrecht, Keiko Fujimori tem prisão preventiva anulada

Tensão entre Executivo e Judiciário aumenta com fuga de ex-juiz acusado de corrupção
Keiko Fujimori deixa o tribunal em Lima com o marido, Mark Vito: prisão preventiva foi anulada Foto: LUKA GONZALES / AFP
Keiko Fujimori deixa o tribunal em Lima com o marido, Mark Vito: prisão preventiva foi anulada Foto: LUKA GONZALES / AFP

BUENOS AIRES - Em novo capítulo da novela judicial envolvendo uma das famílias mais influentes na política peruana, a Justiça ordenou a liberação da ex-candidata presidencial Keiko Fujimori , detida há dez dias por denúncias de participação numa suposta rede de lavagem de dinheiro, incluindo recursos que a empreiteira Odebrecht teria injetado em suas campanhas eleitorais.

A saída de Keiko da prisão ocorreu em momentos de crescente tensão entre Executivo e Judiciário, elevada nos últimos dias pela fuga do país de um juiz acusado de corrupção.

Embora o fujimorismo esteja passando por um de seus piores momentos, a decisão sobre Keiko mostrou, na visão de analistas locais, que o partido Força Popular, liderado pela ex-família presidencial, ainda tem forte ingerência no Judiciário e, claro, no Legislativo, onde continua preservando a maior bancada.

— Eleitoralmente, o Força Popular fez uma péssima eleição nas últimas regionais, e Keiko alcançou seu nível máximo de rejeição, de quase 50%. O desgaste é evidente e está diretamente relacionado aos casos de corrupção. Mas o fujimorismo ainda tem espaços de poder — explicou Fernando Tuesta, professor da Universidade Católica de Lima.

Para ele, “os conflitos entre os três poderes do Estado estão chegando a limites nunca vistos”.

— Os problemas entre Executivo e Legislativo começaram em 2016, quando Keiko perdeu a eleição mas ganhou o controle do Parlamento. Desde julho, somaram-se embates entre o Judiciário e o Executivo — ampliou Tuesta.

Ministro do Interior se demite

A liberação de Keiko foi autorizada pelo juiz César Sahuanay, da Segunda Sala Penal de Apelações Nacional. Já a detenção preliminar (por um período de dez dias) da ex-candidata presidencial fora ordenada pelo juiz Richar Concepción Carhuanco, agora acusado de ter cometido irregularidades. Trata-se do mesmo juiz que determinou a prisão do ex-presidente Ollanta Humana e da ex-primeira-dama Nadine Heredia, no ano passado, também pela chamada “Lava-Jato peruana”. Ambos permaneceram oito meses em reclusão.

Os escândalos se acumulam no Peru e o presidente Martin Vizcarra, que assumiu o cargo em março passado, após a destituição de Pedro Pablo Kuczynski (mais conhecido como PPK), tem se mostrado cada vez mais firme em suas críticas ao fujimorismo e ao Judiciário. O chefe de Estado exigiu que “assumam sua responsabilidade os que blindaram” o ex-juiz César Hinastroza, que fugiu para a Espanha após aparecer em áudios como partícipe de uma rede de corrupção, na qual também estariam envolvidos vários fujimoristas.

Hinostroza havia sido destituído pelo Congresso no início do mês, ao ser acusado de tráfico de influências e de liderar uma organização criminosa. Sua fuga na quarta-feira acabou tendo impacto no governo, com o ministro do Interior, Mauro Medina, apresentando seu pedido de demissão. De acordo com o jornal "El Comercio", Vizcarra pretendia mantê-lo no cargo, mas foi pressionado por parlamentares a aceitar a demissão.