Bolsonaro quer aprovar parte da reforma da Previdência ainda em 2018

Em série de entrevistas, presidente eleito disse que pretende indicar Sergio Moro para STF ou Ministério da Justiça

São Paulo

Numa série de entrevistas à imprensa exibidas por emissoras de TV nesta segunda-feira (29), um dia após vencer a eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que vai conversar com Michel Temer (MDB), atual ocupante do posto, para tentar aprovar “ao menos parte” da reforma da Previdência ainda em 2018, antes de assumir o cargo.

A primeira entrevista foi exibida pela TV Record. Poucos depois Band, SBT e Globo também transmitiram conversas com o presidente eleito. 

“Semana que vem estaremos em Brasília e tentaremos junto ao atual governo de Michel Temer aprovar alguma coisa. Senão toda a reforma da Previdência, ao menos parte, para evitar problemas para um futuro governo”, disse o capitão reformado do Exército à Record.

A declaração contradiz a postura adotada pela equipe de Bolsonaro a respeito da proposta de reforma previdenciária proposta pelo governo Temer.

O coordenador político da campanha do PSL, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já havia declarado no início de outubro que o assunto só seria discutido depois da posse, e não na transição. “O Jair não era a favor dessa reforma, eu não sou a favor dessa reforma, a maioria das pessoas que apoiam o Bolsonaro não são a favor da reforma que o Temer propôs porque ela é ruim, uma porcaria”, disse Lorenzoni.

O grupo liderado por Paulo Guedes, provável ministro da Fazenda numa gestão Bolsonaro, também avaliava que o texto já em tramitação no Congresso não deveria ser levado adiante por trazer impacto reduzido nas contas e, por outro lado, ter potencial de provocar grande desgaste político à Presidência.
 

A jornalistas do SBT, porém, Bolsonaro disse que a reforma “é bem-vinda e será feita, no que depender de nós, com muito critério e com muita responsabilidade”.

“Nós vamos procurar o governo e vamos procurar salvar alguma coisa desta reforma. A forma como ela está sendo proposta, não adianta eu ser favorável ou o general [Hamilton Mourão] ser favorável. Nós temos que ver o que poder ser aprovado, o que passa pela Câmara e pelo Senado”, comentou.

Na área econômica, o capitão reformado argumentou ainda que vai pedir ao atual Congresso que evite “pautas bomba que aumentem ainda mais esse déficit, sob o risco de o Brasil entrar em colapso”. 

Nas entrevistas Bolsonaro também declarou que pretende indicar o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Lava Jato em Curitiba, para uma das vagas do STF ou mesmo convidá-lo para ser seu ministro da Justiça.

“Se tivesse falado isso lá atrás, durante a campanha, soaria oportunista, mas agora, sim: pretendo, sim [convidar Moro], não só para o Supremo, mas quem sabe para o Ministério da Justiça. Pretendo conversar previamente com ele. Com toda certeza será uma pessoa de extrema importância [em meu governo]”, disse à TV Record.

Ao SBT reforçou que Moro seria muito bem-vindo em seu governo. “Ele é uma pessoa excepcional, que goza de um respaldo muito grande da população e tem conhecimento. O Ministério da Justiça pode ser um parceiro no combate à corrupção.” 

A respeito do STF, reafirmou ter abandonado a ideia de ampliar o número de ministros da corte.
Bolsonaro prometeu ainda lutar para implantar uma de suas principais propostas de campanha: a redução da maioridade penal. Para o presidente eleito, a idade ideal seria 14 anos —o projeto que tramita no Congresso estipula a idade em 16 anos.

“Se não for possível para 16, que seja para 17 [anos]. Por mim seria para 14, mas aí dificilmente seria aprovada. Pode ter certeza que reduzindo a maioridade penal, a violência no Brasil tende a diminuir”, afirmou.

Nas conversas elencou alguns dos nomes que deverão compor seus ministérios: Paulo Guedes (Fazenda), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), general Augusto Heleno (Defesa) e o astronauta Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

Dentre todos os ministérios, destacou o da Educação como o mais importante. “O PT dobrou os gastos, mas a educação piorou. Precisamos de um ministério com perfil completamente técnico. Vamos deixar de lado a filosofia de Paulo Freire”, afirmou, ao prometer uma indicação técnica para a pasta. 

Questionado sobre a ditadura militar, o capitão reformado disse que a população brasileira está começando a entender que “não houve ditadura” e relativizou a censura a meios de comunicação na época. Para ele, certas reportagens sofriam censura para evitar seu uso para envio de mensagens cifradas para grupos que desejavam atacar autoridades. “O período militar não foi ditadura que a esquerda sempre falou”, disse.

Queixou-se também que a esquerda quer colar nele o rótulo de fascista, quando na verdade fascista seria “a esquerda, que sempre colocou o Estado acima de tudo”.

Em consequência do que julga serem acusações infundadas, reclamou que se vê obrigado a declarar constantemente que respeitará a Constituição. Do contrário, diz, seria atacado pelo outro lado. “Lamento ser obrigado a fazer isso, dizer que você é um democrata sendo um democrata.”

Em conversa com a Record, Bolsonaro declarou ser defensor da democracia e da liberdade de expressão e dos veículos de comunicação.

“Quem impõe limite à liberdade de expressão é o cidadão. Alguns órgãos perderam credibilidade perante a população. Foi dado um grande recado a essas mídias que ousaram tomar um partido político”, afirmou.
O único controle sobre a mídia, destacou, deve ser o controle remoto do cidadão.

Bolsonaro também destacou que pretende privatizar a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), empresa pública criada em 20017 para gerir um conglomerado de emissoras de rádio e televisão públicas.

O presidente eleito criticou que a EBC consome bilhões por ano e não oferece retorno em audiência. “Queremos vender a EBC. Preferimos confiar na mídia profissional para fazer os anúncios que o governo deve fazer.”
 

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