Sauditas negam papel de príncipe herdeiro na morte de jornalista

Donald Trump volta atrás e acusa Arábia Saudita de “mentir” sobre assassinato de Jamal Khashoggi no consulado do país em Istambul

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Atualização:

RIAD - O chanceler da Arábia Saudita, Adel bin Ahmed al-Jubeir, disse neste domingo, 21, que o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman não foi informado sobre a operação que levou à morte do jornalista Jamal Khashoggi e garantiu que a ação “não foi autorizada pelo regime”. Em entrevista à Fox News, ele admitiu que a morte do dissidente foi “um erro”. 

O ministro das Relações Exterioresda Arábia Saudita, Adel Ahmed Al-Jubeir Foto: (Photo by Angela Weiss / AFP)

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Jubeir prometeu à família da vítima que os responsáveis serão punidos. “Isso foi um erro terrível. Isso é uma tragédia terrível. Nossas condolências para eles. Sentimos a dor deles”, afirmou. “As pessoas que fizeram isto extrapolaram sua autoridade. Obviamente, um erro sério enorme foi cometido e o que agravou foi a tentativa de acobertar.”

O chanceler disse que não sabe onde está o corpo do jornalista. “Não sabemos como aconteceu. Não sabemos onde está o corpo”, disse Jubeir, que elogiou o trabalho do procurador saudita que ordenou a prisão de 18 pessoas. “Foi o primeiro passo de uma longa jornada.”

Khashoggi entrou no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, no dia 2, e nunca mais saiu. Nos primeiros dias, o governo saudita negou que soubesse de seu paradeiro e garantiu que ele havia deixado o prédio com vida. 

Depois, quando a polícia turca anunciou que tinha áudios mostrando que ele havia sido torturado e esquartejado, a pressão internacional aumentou e Riad admitiu, no sábado, que ele havia morrido após uma “briga” dentro do consulado. 

No domingo, 21, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou atrás e acusou a Arábia Saudita de mentir sobre a morte de Khashoggi. “Obviamente, houve fraudes e mentiras”, disse Trump em entrevista ao Washington Post. 

Horas antes, o presidente americano havia aceitado a versão oficial dos sauditas. Questionado se acreditava na história de que Khashoggi havia morrido após uma briga no consulado, ele disse que a versão “era crível” e garantiu que confiava na liderança de Mohamed bin Salman.

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Khashoggi era um crítico do poder saudita e trabalhou para o jornal 'The Washington Post' Foto: Hasan Jamali / AP

Segundo analistas, o presidente americano está enfrentando um impasse. Trump não quer prejudicar as relações comerciais e diplomáticas com os Sauditas em detrimento da defesa dos direitos humanos, especialmente no momento em que precisa deles se quiser aumentar a pressão sobre o Irã. A Arábia Saudita é a principal responsável por manter estável o preço do petróleo após os EUA retomarem as sanções contra os iranianos. 

No entanto, o presidente americano corre o risco de ficar isolado. Neste domingo, 21, Reino Unido, Alemanha e França emitiram um comunicado conjunto condenando o assassinato de Khashoggi e exigindo explicações sobre o que ocorreu. 

Quem também demonstrou impaciência foi o Congresso dos EUA. Independentemente da vontade de Trump, os congressistas, se quiserem, podem aprovar sanções contra a Arábia Saudita ou contra funcionários do alto escalão do governo, como o próprio príncipe Salman. 

O senador republicano Bob Corker, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, responsabilizou o príncipe herdeiro pelo assassinato do jornalista. “Se eu acredito que ele é culpado? Sim, acredito”, disse Corker em entrevista à CNN. 

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Dick Durbin, vice-líder dos democratas no Senado, também responsabilizou Salman. “As digitais do príncipe herdeiro estão por todos os lados”, afirmou Durbin, que defendeu a expulsão do embaixador da Arábia Saudita nos EUA. “Ele passou do limite e deve receber uma punição.”

Um dos atores mais atuantes no caso tem sido a Turquia. Segurando e revelando informações a conta-gotas, quando lhe convém, o governo turco tem conseguido aumentar a pressão internacional sobre a Arábia Saudita. O presidente Recep Tayyip Erdogan disse que anunciará amanhã detalhes sobre o assassinato de Khashoggi durante um discurso no Parlamento. / AP, REUTERS, NYT e AFP

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